domingo, 29 de abril de 2012

Entre poetas e políticos



Eram seis da tarde de uma sexta-feira qualquer. Tomava meu chimarrão e ouvia a programação da noite de Porto Alegre em um programa de rádio. Ouvi um estrondo na rua, como se fosse um trovão. Mas era um dia de sol e céu azul. Era apenas o gerador da rua que havia estourado. O ventilador, o rádio e o computador desligaram automaticamente. Então falei para mim mesmo lembrando Drumond. ‘E agora José; A luz apagou. A festa acabou’. Deitei no sofá e adormeci.

Minutos depois acordei. A luz ainda não havia voltado. Espreguicei-me. Olhei para o lado. E tive uma surpresa. Meu corpo ainda estava dormindo sobre o sofá. Perguntei-me se aquilo era um sonho. E parafraseando Quintana, refleti: ‘Tudo passa. Eu passarinho’. Neste exato momento um passarinho entrou pela janela e pousou sobre mesa onde começou a saborear algumas migalhas de pão que ali estavam.

‘Toc, toc, toc’. Alguém bateu a porta. Para minha surpresa chegavam para me fazer uma visita nada menos que Mário Quintana e Carlos Drumond de Andrade. Quintana logo perguntou: ‘Ainda tem chimarrão?’ Falei que sim, ainda surpreso; E sem saber o que estava acontecendo, fui lentamente fechar a porta. Drumond disse: “Espere o Érico’. Perguntei: ‘Érico?’. ‘Sim, Veríssimo’. Disse Quintana.

Bom, a sociedade dos poetas mortos estava completa. Acomodei o pessoal pela sala e começamos a conversar. Um deles me disse: ‘Fiquei sabendo que és poeta’. Seguido dos outros que comentaram: ‘Estamos acompanhando seu trabalho’.’Me fale um pouco de você’.

‘Moro em Porto Alegre desde a virada do milênio. Sou natural da fronteira. São Borja. Terra de Jango e Getúlio. E também onde enterraram o Brizola.’ Neste exato momento ouvi um barulho no quarto. Falei aos poetas: ‘Esperem um momento, vou ali ver o que é...’. Quando entrei no dormitório estavam ali Brizola, Goulart e meu falecido pai. Brizola me disse: ‘O Vargas não pode vir, estava com dor de cabeça. Mas mandou um abraço.’. Meu pai falou: ‘tudo bem com você... Só estou acompanhando o pessoal’ Convidei-os então a uma rodada de chimarrão: ‘Vamos até a sala tomar um mate’.

Conversamos por aproximadamente uns vinte minutos sobre vários assuntos, que segundo eles eu deveria abordar em meus textos. Ao se despedirem, Drumond disse: ‘Visita de poeta e político é jogo rápido’. Meu pai acompanhou Brizola e Goulart até o Palácio Piratini. Enquanto Quintana seguiu com Drumond e Érico até o centro para dar um passeio na Rua dos Andradas.

Fechei a porta. E deitei novamente na mesma posição onde meu corpo repousava. Minutos depois o rádio começou a tocar, o ventilador a girar e o PC fazia uma varredura de disco em virtude do desligamento forçado. Neste momento acordei pela segunda vez. Mas desta vez com corpo e tudo. E sussurrei para mi mesmo: ‘Que sonho louco’. ‘O que iriam querer aqui poetas imortais e políticos famosos?’.

Então, peguei meu chimarrão, abri um novo documento no Word e comecei a escrever um texto sobre viagem astral. No fim do texto me perguntei: ‘O que diria Kardek sobre este conto...‘. Será que Freud explica?’. Neste momento ouvi duas batidas na porta. ‘Toc, toc’. Fui abrir surpresamente: ‘Quem será?’. Desta vez era apenas o zelador que vinha me avisar: ‘A luz voltou’.

sexta-feira, 27 de abril de 2012

O Pajé e o Santo



Um mito diz que há mais de 300 anos, houve um encontro histórico no sul do Brasil. Chegavam à nação Guarani os padres Jesuítas da companhia de Jesus. Liderados por Francisco de Borja. Que ajudou a fundar os sete povos das Missões. No primeiro dos sete povos, umas das cidades mais antigas do Rio Grande do Sul, São Borja, na fronteira Oeste do Rio grande do Sul com a Argentina, que primeiramente pertencia a Espanha, houve um encontro que marcou a catequese e a conversão de milhares de indígenas ao cristianismo.

Francisco de Borja encontrou o líder espiritual dos guaranis para uma conversa. Pois para a conversão de todos os índios, Francisco deveria convencer o Pajé a virar cristão. Foram então passear pelo campo a beira do rio. E conversaram por ali durante o sol de um sábado. O pajé explicou que estava preocupado com a mudança que estava começando a acontecer, e que tratou a terra durante centenas de anos para que não pudesse haver transformações maléficas ao seu povo.

Explicou que havia feito um trabalho na terra. Onde disse: "Tudo certo, nada errado, nada errado, tudo certo. E o contrário do oposto é o mesmo que o oposto do contrário. E o inverso também." Isso muito antes dos europeus e africanos chegarem a América. Francisco perguntou então por que havia feito deste modo. O pajé falou, para não mudar o que está certo. Pois o sol deve continuar nascendo todas as manhãs, a chuva deve continuar precipitando das nuvens, e as sementes devem continuar virando árvores e as árvores devem continuar dando frutos.

Francisco pediu que o Pajé esquecesse tudo isto. Que não deveria ficar preocupado. E lhes falou de Jesus: "Houve um homem que transformou água em vinho. E assim como você, curou vários enfermos. Mas fez muito mais. Devolveu a vida aos mortos. Andou sobre as águas e multiplicou os alimentos. Morreu por nós. Ressuscitou e subiu ao céu. E está lhe convidando para aceitá-lo. Pois ele quer salvar este povo".

O Pajé, que tinha muita sensibilidade, sentiu tudo aquilo em seu coração. E chorou. E viu que deveria aceitar Jesus Cristo como seu senhor. E assim fez. E convenceu todos os índios a seguirem o mesmo caminho. Francisco então ficou feliz pois sabia que sua missão, em parte, havia sido cumprida. Dias depois, centenas de índios se converteram e ajudaram a construir uma igreja no centro da cidade.

Francisco reconheceu que o Pajé tinha bom coração, e boas intenções. E que realmente tem coisas que não devem ser mudadas. Que a verdade não tem outro lado. Não pode ser desfeita. E que as sementes continuarão virando árvores e frutos. E que o sol continuará nascendo todas as manhãs. E que como era no princípio, agora e sempre será.


J.P.D.